Tendências Pedagógicas
A Relação entre as Tendências
Pedagógicas e a Prática Docente
As Tendências Pedagógicas, são de extrema relevância para a Educação, principalmente as mais recentes, pois as mesmas contribuem para a condução de um trabalho docente mais consciente, baseado nas demandas atuais da clientela em questão, propostas e modelos que devem ser observados devido a constante metamorfose social de um povo.
O conhecimento destas tendências e perspectivas de ensino por parte dos professores é fundamental para a realização de uma prática docente realmente significativa, que tenha algum sentido para o aluno, pois tais tendências objetivam nortear o trabalho do educador ajudando-o a responder questões sobre as quais deve se estruturar todo o processo de ensino, tais como: o que ensinar? Para quem? Como? Para que? Por quê? E para que a prática pedagógica em sala de aula alcance seus objetivos, o professor deve ter as respostas para estas questões, pois, como defende Luckesi (1994): “A Pedagogia não pode ser bem entendida e praticada na escola sem que se tenha alguma clareza do seu significado. Isso nada mais é do que buscar o sentido da prática docente”.
Estas Tendências Pedagógicas formuladas ao longo dos tempos por diversos teóricos que se debruçaram sobre o tema em pesquisas e ou práticas diárias, foram concebidas a partir de visões em relação ao contexto histórico das sociedades em que estavam inseridos, além de suas concepções de homem e mundo, tendo como principal objetivo auxiliar o trabalho docente, modelando-o a partir das necessidades de ensino observadas no âmbito social em que viviam. Sendo assim, o conhecimento dessas correntes pedagógicas por parte dos professores, principalmente as mais recentes, torna-se de extrema relevância, visto que as mesmas possibilitam ao educador um aprofundamento maior sobre os pressupostos e variáveis do processo de ensino-aprendizagem, abrindo-lhe um leque de possibilidades de direcionamento do seu trabalho, a partir de suas convicções pessoais, profissionais, políticas e sociais, contribuindo assim, para a produção de uma prática docente estruturada, significativa, esclarecedora e, principalmente, positiva por parte do entendimento dos discentes.
A escola precisa ser reencantada, encontrar motivos para que o aluno vá para os bancos escolares com satisfação, alegria. Existem escolas esperançosas, com gente animada, mas existe um mal-estar geral na maioria delas. Não acredito que isso seja trágico. Essa insatisfação deve ser aproveitada para se dar um salto. Se o mal-estar for trabalhado, ele permite um avanço. Se for aceito como uma fatalidade, ele torna a escola um peso morto na história, que arrasta as pessoas e as impede de sonhar, pensar e criar. (Moacir Gadotti, em entrevista para a Revista Nova Escola, edição de novembro/2000)
Sendo assim, creio que seja essencial que todos os professores tenham um conhecimento mais aprofundado com relação às Tendências Pedagógicas, ainda que seja para negá-las, porém de forma crítica e consciente, ou quem sabe para utilizar-se dos pontos positivos observados em cada uma delas e construir uma base pedagógica estruturada, mas com coerência e propriedade. Afinal, como já defendia Snyders (1974): é possível “Pensar que se pode abrir um caminho a uma pedagogia atual; que venha a fazer a síntese do tradicional e do moderno: Síntese e não confusão”. O importante é que se busque tirar a venda dos olhos para enxergar, literalmente, o alunado e, assim, poder dar um sentido político e social ao trabalho que está sendo realizado, pois, assim como afirma Libâneo, aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta, isto é, da situação real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta de uma aproximação crítica dessa realidade, o que está em consonância com o que diz Saviani (1991):
A Pedagogia Crítica implica a clareza dos determinantes sociais da educação, a compreensão do grau em que as contradições da sociedade marcam a educação e, consequentemente como é preciso se posicionar diante dessas contradições e desenreda a educação das visões ambíguas, para perceber claramente qual é a direção que cabe imprimir a questão educacional. (p.103)
Segundo Luckesi (1994), a “Pedagogia se delineia a partir de uma posição filosófica definida”. Em seu livro “Filosofia da Educação”, o autor discorre sobre a relação existente entre a Pedagogia e a Filosofia e busca clarificar as perspectivas das relações entre educação e sociedade. No seu trabalho, Luckesi apresenta três tendências filosóficas responsáveis por interpretar a função da educação na sociedade: a Educação Redentora, a Educação Reprodutora e a Educação Transformadora da Sociedade. A primeira é otimista, acredita que a educação pode exercer domínio sobre a sociedade (Pedagogias Liberais). A segunda é pessimista, percebe a educação como sendo apenas reprodutora de um modelo social vigente. Enquanto a terceira tendência assume uma postura crítica com relação às duas anteriores, indo de encontro tanto do “otimismo ilusório” quanto do “pessimismo imobilizador” (Pedagogias Progressistas).
Em consonância com estas leituras filosóficas sobre as relações entre educação e sociedade, Libâneo (1985), ao realizar uma abordagem das Tendências Pedagógicas organiza as diferentes pedagogias em dois grupos: Pedagogia Liberal e Pedagogia Progressista. A Pedagogia Liberal é apresentada nas formas Tradicional; Renovada Progressivista; Renovada Não-diretiva; e Tecnicista. Enquanto a Pedagogia Progressista é subdividida em Libertadora; Libertária; e Crítico-social dos Conteúdos. Como mostra o quadro a seguir, que apresenta de forma muito simplificada as principais características de cada Tendência Pedagógica, seus conteúdos, métodos e pressupostos de ensino-aprendizagem, assim como seus principais expoentes e os papéis da escola, do professor e do aluno comuns a cada uma delas.
As Competências do Educador
do século XXI
O educador contemporâneo deve ser acima de tudo crítico. Analisar,
conhecer, absorver e principalmente entender as mudanças sociais,
culturais e tecnológicas que ocorrem quase que diariamente no mundo
todo. O educador deve acima de tudo estar mais próximo ao educando,
conhecê-lo melhor, conhecer suas necessidades e também suas
potencialidades, trabalhando sempre o princípio da afetividade “ Teoria
defendida por WALLON” e outros inúmeros pesquisadores da educação. Não
cabe mais somente culpabilizar o aluno por seu fracasso escolar, mas
assegurar-se de que ele esteja sendo atendido de forma adequada,
observando e escutando sua realidade, dificuldades e problemas como
ponto de partida para o processo de ensino-aprendizagem, pois sabemos
que cada indivíduo aprende de forma particular, de acordo com os seus
interesses e que cada um tem o seu próprio ritmo, tendo no fator
“querer” o ponto determinante para o processo de conhecimento. E é esse
“querer aprender” que devemos semear no aluno, com um ensino voltado
para responder questões do seu cotidiano, um ensino que faça sentido
para a sua vida, que esteja dentro da sua realidade e que, assim, o
estimule, cada vez mais, a buscar o saber.
Não se contente em desculpar a escola, argumentando que esses fatos,
reais, são apenas um aspecto de um desequilíbrio social que não é
particular à nossa época. Nem por isso deixa de ser verdade que você não
soube reconhecer nem explorar as aptidões e os talentos do homem de
negócios, do pugilista, do ciclista e do cantor. Você até correu o risco
de os “desencaminhar”, o que é grave. E isso, sem dúvida, porque,
ligado com fidelidade excessiva à tradição, você também perdeu muito
tempo reerguendo muros que se tornaram inúteis, pois você se obstina em
seguir por caminhos que a nada conduzem e não sabe exaltar as novas
forças que, para além das máquinas e das mecânicas, dão uma medida
suprema do homem. (FREINET, 2004, p. 16)
Não basta, para o educador, apenas ensinar no sentido de transmitir o
saber. É preciso que se ensine a pensar, a refletir sobre o objeto da
aprendizagem, é preciso que o aluno entenda seu papel na sociedade,
tanto no presente, quanto no presente futuro. Como disse Paulo Freire:
“Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a
posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para
produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”. Este é o pensamento que
deve ser disseminado entre os professores e incorporado nas propostas de
ensino das escolas da rede pública.
É importante salientar que o fato de reconhecer as possíveis
contribuições das novas correntes pedagógicas para a prática docente e
utilizar-se delas, não significa, necessariamente, ir de encontro, de
forma radical, ao ensino tradicional. Assim como Georges Snyders que
estudou a Escola Tradicional e a Escola Nova e elaborou, a partir dos
resultados desses estudos, uma nova pedagogia: a Pedagogia Progressista,
que se contrapõe a estas correntes, mas ao mesmo tempo aponta pontos
positivos em cada uma delas, eu também não me situo de forma totalmente
contrária à Escola Tradicional. Na verdade, as Tendências Pedagógicas
Contemporâneas não devem significar o fim do Ensino Tradicional, mas a
sua evolução, o seu amadurecimento, concebido a partir das mudanças e
novas demandas da sociedade.
Acredito que se o professor tiver um conhecimento mais ampliado em torno
das possibilidades de direcionamento de seu trabalho, além de
consciência das dimensões política e social de sua prática docente e
ainda conceber a importância de novas soluções de aprendizagem e
propostas de ensino, mesmo em meio às dificuldades do cotidiano dessas
escolas, é possível que este profissional seja capaz de transpor, com
criatividade e eficiência, os obstáculos e assim, desenvolver um
trabalho docente mais qualificado, responsável e significativo.
Temos consciência de que a tarefa de educar no Brasil não é nada fácil,
principalmente em meio a todos os problemas observados no âmbito do
sistema público de ensino, que vão além da baixa remuneração dos
professores, passando pela má formação e desvalorização desses
profissionais, infra-estrutura insatisfatória, e isso sem falar no
desrespeito e violência que, infelizmente, já se tornaram comuns no
cotidiano escolar. Contudo, nas palavras de Saviani (1996):
Efetivamente, se as condições se tornaram adversas, esse fato, em lugar
de nos levar ao desânimo como infelizmente tende a acontecer, deve
conduzir- nos a ampliar a nossa capacidade de luta, organizando-nos mais
fortemente e atuando decisivamente no interior das escolas e junto ao
Estado no sentido de transformar em verdade prática a consciência, já
consensual, da importância estratégica da educação e da urgência e da
urgência da resolução de seus problemas. (prefácio)
Mesmo sendo direcionado, mais especificamente, para a área de gestão
educacional, esse pensamento crítico do autor pode e deve ser apropriado
também no âmbito docente das instituições públicas de ensino. Faz-se
necessário que o professor tenha consciência do seu papel na escola e,
principalmente, que queira, efetivamente, ser a diferença e contribuir
para melhorar suas condições de trabalho e, consequentemente, a
qualidade do ensino que é ministrado nas escolas da rede pública, ao
invés de se limitar a reclamar do seu infortúnio. Afinal, creio que não
sejam novidade para ninguém os problemas enfrentados pela educação no
Brasil. Portanto, suponho que o indivíduo que escolhe ser professor
neste país, já o faz sabendo o que enfrentará. Acredito numa escola
humanitária, de quem quer, realmente, dar sua contribuição em prol da
efetiva melhoria da questão educacional brasileira e lutar por melhores
condições de trabalho.
O aprofundamento dos estudos com relação aos pressupostos teóricos e
metodológicos de aprendizagem empregados pelas diferentes Tendências
Pedagógicas e a desmitificação das novas correntes poderá proporcionar
sim aos professores, um entendimento maior no que tange as dimensões
política e social existentes em cada uma delas, e assim, contribuir para
uma tomada de consciência com relação ao verdadeiro papel do educador
nos dias atuais. Portanto educar implica em um envolvimento da
comunidade, da sociedade, do poder público, gestões educacionais
competentes e uma prática pedagógica mais equilibrada, responsável e
verdadeiramente significativa.
Escolas são pessoas – “José Pacheco”
REFERÊNCIAS:
LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez,
1994. – (Coleção magistério. 2° grau. Série formação do professor)
FREIRE, Paulo. Educação e atualidade. 3. ed. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2003.
GADOTTI, Moacir. Pensamento pedagógico brasileiro. São Paulo: Ática, 1987.
SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. 17ª ed. São Paulo: Cortez / Autores Associados, 1988.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 1985.
FREINET, Célestin. Pedagogia do bom senso. Tradução J. Baptista. 7. ed. — São Paulo : Martins Fontes, 2004.
ARTIGO > PROF. MARCOS LEONARDO DE SOUZA
Marcos
Leonardo de Souza é Educador e Escritor. Licenciado em Pedagogia,
História e Música, com Pós-Graduação Lato Senso em Psicopedagogia,
Alfabetização e Letramento, Educação Lúdica, Educação Musical, Educação
Infantil, atuando nas áreas de consultoria, assessoria pedagógica,
treinamentos, oficinas e palestras. Mestre em Educação.
Tendências Pedagógicas
A Relação entre as Tendências
Pedagógicas e a Prática Docente
As Tendências Pedagógicas, são de extrema relevância para a Educação, principalmente as mais recentes, pois as mesmas contribuem para a condução de um trabalho docente mais consciente, baseado nas demandas atuais da clientela em questão, propostas e modelos que devem ser observados devido a constante metamorfose social de um povo.
O conhecimento destas tendências e perspectivas de ensino por parte dos professores é fundamental para a realização de uma prática docente realmente significativa, que tenha algum sentido para o aluno, pois tais tendências objetivam nortear o trabalho do educador ajudando-o a responder questões sobre as quais deve se estruturar todo o processo de ensino, tais como: o que ensinar? Para quem? Como? Para que? Por quê? E para que a prática pedagógica em sala de aula alcance seus objetivos, o professor deve ter as respostas para estas questões, pois, como defende Luckesi (1994): “A Pedagogia não pode ser bem entendida e praticada na escola sem que se tenha alguma clareza do seu significado. Isso nada mais é do que buscar o sentido da prática docente”.
Estas Tendências Pedagógicas formuladas ao longo dos tempos por diversos teóricos que se debruçaram sobre o tema em pesquisas e ou práticas diárias, foram concebidas a partir de visões em relação ao contexto histórico das sociedades em que estavam inseridos, além de suas concepções de homem e mundo, tendo como principal objetivo auxiliar o trabalho docente, modelando-o a partir das necessidades de ensino observadas no âmbito social em que viviam. Sendo assim, o conhecimento dessas correntes pedagógicas por parte dos professores, principalmente as mais recentes, torna-se de extrema relevância, visto que as mesmas possibilitam ao educador um aprofundamento maior sobre os pressupostos e variáveis do processo de ensino-aprendizagem, abrindo-lhe um leque de possibilidades de direcionamento do seu trabalho, a partir de suas convicções pessoais, profissionais, políticas e sociais, contribuindo assim, para a produção de uma prática docente estruturada, significativa, esclarecedora e, principalmente, positiva por parte do entendimento dos discentes.
A escola precisa ser reencantada, encontrar motivos para que o aluno vá para os bancos escolares com satisfação, alegria. Existem escolas esperançosas, com gente animada, mas existe um mal-estar geral na maioria delas. Não acredito que isso seja trágico. Essa insatisfação deve ser aproveitada para se dar um salto. Se o mal-estar for trabalhado, ele permite um avanço. Se for aceito como uma fatalidade, ele torna a escola um peso morto na história, que arrasta as pessoas e as impede de sonhar, pensar e criar. (Moacir Gadotti, em entrevista para a Revista Nova Escola, edição de novembro/2000)
Sendo assim, creio que seja essencial que todos os professores tenham um conhecimento mais aprofundado com relação às Tendências Pedagógicas, ainda que seja para negá-las, porém de forma crítica e consciente, ou quem sabe para utilizar-se dos pontos positivos observados em cada uma delas e construir uma base pedagógica estruturada, mas com coerência e propriedade. Afinal, como já defendia Snyders (1974): é possível “Pensar que se pode abrir um caminho a uma pedagogia atual; que venha a fazer a síntese do tradicional e do moderno: Síntese e não confusão”. O importante é que se busque tirar a venda dos olhos para enxergar, literalmente, o alunado e, assim, poder dar um sentido político e social ao trabalho que está sendo realizado, pois, assim como afirma Libâneo, aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta, isto é, da situação real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta de uma aproximação crítica dessa realidade, o que está em consonância com o que diz Saviani (1991):
A Pedagogia Crítica implica a clareza dos determinantes sociais da educação, a compreensão do grau em que as contradições da sociedade marcam a educação e, consequentemente como é preciso se posicionar diante dessas contradições e desenreda a educação das visões ambíguas, para perceber claramente qual é a direção que cabe imprimir a questão educacional. (p.103)
Segundo Luckesi (1994), a “Pedagogia se delineia a partir de uma posição filosófica definida”. Em seu livro “Filosofia da Educação”, o autor discorre sobre a relação existente entre a Pedagogia e a Filosofia e busca clarificar as perspectivas das relações entre educação e sociedade. No seu trabalho, Luckesi apresenta três tendências filosóficas responsáveis por interpretar a função da educação na sociedade: a Educação Redentora, a Educação Reprodutora e a Educação Transformadora da Sociedade. A primeira é otimista, acredita que a educação pode exercer domínio sobre a sociedade (Pedagogias Liberais). A segunda é pessimista, percebe a educação como sendo apenas reprodutora de um modelo social vigente. Enquanto a terceira tendência assume uma postura crítica com relação às duas anteriores, indo de encontro tanto do “otimismo ilusório” quanto do “pessimismo imobilizador” (Pedagogias Progressistas).
Em consonância com estas leituras filosóficas sobre as relações entre educação e sociedade, Libâneo (1985), ao realizar uma abordagem das Tendências Pedagógicas organiza as diferentes pedagogias em dois grupos: Pedagogia Liberal e Pedagogia Progressista. A Pedagogia Liberal é apresentada nas formas Tradicional; Renovada Progressivista; Renovada Não-diretiva; e Tecnicista. Enquanto a Pedagogia Progressista é subdividida em Libertadora; Libertária; e Crítico-social dos Conteúdos. Como mostra o quadro a seguir, que apresenta de forma muito simplificada as principais características de cada Tendência Pedagógica, seus conteúdos, métodos e pressupostos de ensino-aprendizagem, assim como seus principais expoentes e os papéis da escola, do professor e do aluno comuns a cada uma delas.
As Competências do Educador
do século XXI
O educador contemporâneo deve ser acima de tudo crítico. Analisar,
conhecer, absorver e principalmente entender as mudanças sociais,
culturais e tecnológicas que ocorrem quase que diariamente no mundo
todo. O educador deve acima de tudo estar mais próximo ao educando,
conhecê-lo melhor, conhecer suas necessidades e também suas
potencialidades, trabalhando sempre o princípio da afetividade “ Teoria
defendida por WALLON” e outros inúmeros pesquisadores da educação. Não
cabe mais somente culpabilizar o aluno por seu fracasso escolar, mas
assegurar-se de que ele esteja sendo atendido de forma adequada,
observando e escutando sua realidade, dificuldades e problemas como
ponto de partida para o processo de ensino-aprendizagem, pois sabemos
que cada indivíduo aprende de forma particular, de acordo com os seus
interesses e que cada um tem o seu próprio ritmo, tendo no fator
“querer” o ponto determinante para o processo de conhecimento. E é esse
“querer aprender” que devemos semear no aluno, com um ensino voltado
para responder questões do seu cotidiano, um ensino que faça sentido
para a sua vida, que esteja dentro da sua realidade e que, assim, o
estimule, cada vez mais, a buscar o saber.
Não se contente em desculpar a escola, argumentando que esses fatos,
reais, são apenas um aspecto de um desequilíbrio social que não é
particular à nossa época. Nem por isso deixa de ser verdade que você não
soube reconhecer nem explorar as aptidões e os talentos do homem de
negócios, do pugilista, do ciclista e do cantor. Você até correu o risco
de os “desencaminhar”, o que é grave. E isso, sem dúvida, porque,
ligado com fidelidade excessiva à tradição, você também perdeu muito
tempo reerguendo muros que se tornaram inúteis, pois você se obstina em
seguir por caminhos que a nada conduzem e não sabe exaltar as novas
forças que, para além das máquinas e das mecânicas, dão uma medida
suprema do homem. (FREINET, 2004, p. 16)
Não basta, para o educador, apenas ensinar no sentido de transmitir o
saber. É preciso que se ensine a pensar, a refletir sobre o objeto da
aprendizagem, é preciso que o aluno entenda seu papel na sociedade,
tanto no presente, quanto no presente futuro. Como disse Paulo Freire:
“Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a
posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para
produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”. Este é o pensamento que
deve ser disseminado entre os professores e incorporado nas propostas de
ensino das escolas da rede pública.
É importante salientar que o fato de reconhecer as possíveis
contribuições das novas correntes pedagógicas para a prática docente e
utilizar-se delas, não significa, necessariamente, ir de encontro, de
forma radical, ao ensino tradicional. Assim como Georges Snyders que
estudou a Escola Tradicional e a Escola Nova e elaborou, a partir dos
resultados desses estudos, uma nova pedagogia: a Pedagogia Progressista,
que se contrapõe a estas correntes, mas ao mesmo tempo aponta pontos
positivos em cada uma delas, eu também não me situo de forma totalmente
contrária à Escola Tradicional. Na verdade, as Tendências Pedagógicas
Contemporâneas não devem significar o fim do Ensino Tradicional, mas a
sua evolução, o seu amadurecimento, concebido a partir das mudanças e
novas demandas da sociedade.
Acredito que se o professor tiver um conhecimento mais ampliado em torno
das possibilidades de direcionamento de seu trabalho, além de
consciência das dimensões política e social de sua prática docente e
ainda conceber a importância de novas soluções de aprendizagem e
propostas de ensino, mesmo em meio às dificuldades do cotidiano dessas
escolas, é possível que este profissional seja capaz de transpor, com
criatividade e eficiência, os obstáculos e assim, desenvolver um
trabalho docente mais qualificado, responsável e significativo.
Temos consciência de que a tarefa de educar no Brasil não é nada fácil,
principalmente em meio a todos os problemas observados no âmbito do
sistema público de ensino, que vão além da baixa remuneração dos
professores, passando pela má formação e desvalorização desses
profissionais, infra-estrutura insatisfatória, e isso sem falar no
desrespeito e violência que, infelizmente, já se tornaram comuns no
cotidiano escolar. Contudo, nas palavras de Saviani (1996):
Efetivamente, se as condições se tornaram adversas, esse fato, em lugar
de nos levar ao desânimo como infelizmente tende a acontecer, deve
conduzir- nos a ampliar a nossa capacidade de luta, organizando-nos mais
fortemente e atuando decisivamente no interior das escolas e junto ao
Estado no sentido de transformar em verdade prática a consciência, já
consensual, da importância estratégica da educação e da urgência e da
urgência da resolução de seus problemas. (prefácio)
Mesmo sendo direcionado, mais especificamente, para a área de gestão
educacional, esse pensamento crítico do autor pode e deve ser apropriado
também no âmbito docente das instituições públicas de ensino. Faz-se
necessário que o professor tenha consciência do seu papel na escola e,
principalmente, que queira, efetivamente, ser a diferença e contribuir
para melhorar suas condições de trabalho e, consequentemente, a
qualidade do ensino que é ministrado nas escolas da rede pública, ao
invés de se limitar a reclamar do seu infortúnio. Afinal, creio que não
sejam novidade para ninguém os problemas enfrentados pela educação no
Brasil. Portanto, suponho que o indivíduo que escolhe ser professor
neste país, já o faz sabendo o que enfrentará. Acredito numa escola
humanitária, de quem quer, realmente, dar sua contribuição em prol da
efetiva melhoria da questão educacional brasileira e lutar por melhores
condições de trabalho.
O aprofundamento dos estudos com relação aos pressupostos teóricos e
metodológicos de aprendizagem empregados pelas diferentes Tendências
Pedagógicas e a desmitificação das novas correntes poderá proporcionar
sim aos professores, um entendimento maior no que tange as dimensões
política e social existentes em cada uma delas, e assim, contribuir para
uma tomada de consciência com relação ao verdadeiro papel do educador
nos dias atuais. Portanto educar implica em um envolvimento da
comunidade, da sociedade, do poder público, gestões educacionais
competentes e uma prática pedagógica mais equilibrada, responsável e
verdadeiramente significativa.
Escolas são pessoas – “José Pacheco”
REFERÊNCIAS:
LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez,
1994. – (Coleção magistério. 2° grau. Série formação do professor)
FREIRE, Paulo. Educação e atualidade. 3. ed. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2003.
GADOTTI, Moacir. Pensamento pedagógico brasileiro. São Paulo: Ática, 1987.
SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. 17ª ed. São Paulo: Cortez / Autores Associados, 1988.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 1985.
FREINET, Célestin. Pedagogia do bom senso. Tradução J. Baptista. 7. ed. — São Paulo : Martins Fontes, 2004.
ARTIGO > PROF. MARCOS LEONARDO DE SOUZA
Marcos
Leonardo de Souza é Educador e Escritor. Licenciado em Pedagogia,
História e Música, com Pós-Graduação Lato Senso em Psicopedagogia,
Alfabetização e Letramento, Educação Lúdica, Educação Musical, Educação
Infantil, atuando nas áreas de consultoria, assessoria pedagógica,
treinamentos, oficinas e palestras. Mestre em Educação.
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