Emoções não podem ser ignoradas e são importantes para a evolução da inteligência, mas sala de aula não é consultório.
Falar de emoção na sala de aula é sempre intrigante, pois existem
diferentes perspectivas para abordar o tema. Alguns professores acham
que esse assunto não é para ser tratado na escola: lá seria um lugar de
conhecimento, em que a afetividade estaria em segundo plano e somente o
aspecto cognitivo seria relevante. Por outro lado, existem profissionais
que dão tanta ênfase ao aspecto afetivo, como se todos os problemas
emocionais pudessem ser tratados na sala de aula. Este é um tema
controverso, mas, seguramente, pode-se afirmar que nenhum desses
extremos é capaz de apreender a questão em sua totalidade. Aliás, como
em quase tudo na área da Educação, respostas dicotômicas são apenas
parciais. Não se trata de discutir se a emoção deve ou não estar na
escola, porque ela já está, mas também não se pode concluir que a escola
consiga solucionar todos os problemas no âmbito afetivo, porque ela não
pode.
Segundo a psicologia de Henri Wallon, o homem é um ser completo, isto é,
expressa domínios da cognição, da afetividade e do movimento, sendo que
esses domínios se influenciam, e em cada momento do desenvolvimento da
criança, há a predominância de um desses aspectos.
Por isso, não é possível que dentro da escola as emoções sejam ignoradas. Ao entrar na sala de aula, o professor não pode pedir: “Caro aluno, vou fechar a porta, por favor, deixe do lado de fora suas emoções, sentimentos, paixões...”. Nem mesmo o professor pode despir-se de suas manifestações afetivas quando está lecionando. No entanto, é evidente que o educador tem (ou deveria ter) condições de racionalizar muito mais suas próprias emoções do que o aluno. E, mais do que isso, de compreender as manifestações afetivas deles, ajudando-os no seu desenvolvimento.
Por isso, não é possível que dentro da escola as emoções sejam ignoradas. Ao entrar na sala de aula, o professor não pode pedir: “Caro aluno, vou fechar a porta, por favor, deixe do lado de fora suas emoções, sentimentos, paixões...”. Nem mesmo o professor pode despir-se de suas manifestações afetivas quando está lecionando. No entanto, é evidente que o educador tem (ou deveria ter) condições de racionalizar muito mais suas próprias emoções do que o aluno. E, mais do que isso, de compreender as manifestações afetivas deles, ajudando-os no seu desenvolvimento.
Para Henri Wallon, esse entendimento de que as emoções nos constituem,
que não podem ser ignoradas e de que, na verdade, são importantes para a
própria evolução da inteligência, revela a necessidade de que o
professor seja bem preparado para o ato de ensinar.
Assim, se as emoções estão na sala de aula, ao mesmo tempo em que não
são o foco central do ato educativo, o que cabe ao professor?
Essencialmente, conhecer e respeitar o aluno. Conhecer significa, antes
de tudo, entender o desenvolvimento da criança, compreender que cada
etapa tem uma função e que a própria criança deve ser sua referência,
evitando-se assim as comparações e favorecendo o atendimento às
necessidades de cada aluno.
De acordo com Laurinda Ramalho de Almeida, “é responsabilidade do
adulto, e principalmente do educador, adequar o meio escolar às
possibilidades e necessidades infantis do momento”. Ao conhecer o aluno o
professor torna sua ação psicológica, uma vez que, para Henri Wallon,
“a orientação do ensino torna-se psicológica a partir do momento em que
ele pretende adaptar-se ao espírito e à natureza da criança”.
Mas, além de conhecer a criança, a perspectiva de Wallon nos leva também
ao entendimento de que é preciso que o professor aprenda a respeitar o
aluno. Laurinda Ramalho de Almeira explora esta questão e sintetiza essa
ideia afirmando que o fundamento do trabalho do professor é o respeito
pelo aluno. Segundo a autora, respeitar o aluno significa:
- aceitá-lo no ponto em que está, conhecê-lo em sua etapa de formação e conhecer os meios em que ele possa desenvolver suas ações;
- não impor limites a seu desenvolvimento;
- oferecer outros meios e grupos para que ele possa desenvolver suas ações;
- aceitar que a Educação é uma relação evolutiva, que vai se transformando e tende para a autonomia, para o ponto em que o aluno não precisa mais do professor.
Isso só será possível se o professor assumir sua função de observador
atento da criança. Assim, a autora afirma que “o professor precisa ser
um arguto, lúcido, constante observador de seu aluno. Observador da
criança como uma pessoa completa, integrada, contextualizada; observador
da criança em cada um de seus domínios funcionais”. Mas, ao observar e
demonstrar interesse pelo aluno, o professor pode vir a se deparar com
questões afetivas que extrapolam suas possibilidades de intervenção.
Nesse momento, é preciso reconhecer os limites de sua atuação e contar
com um serviço multidisciplinar que possa apoiar a criança nas suas
necessidades. A parceria com a família é fundamental e podem ser
necessários encaminhamentos específicos, para os quais a escola precisa
estar preparada.
Nas situações, entretanto, do dia a dia da sala de aula, em que caberá
ao professor lidar com as mais diversas manifestações afetivas do
conjunto dos alunos e não apenas de uma criança, vale ressaltar a
importância de conhecer alguns aspectos das emoções como, por exemplo, o
fato de que são contagiosas. Wallon refere-se a isso em muitos de seus
trabalhos e Laurinda Ramalho de Almeida reitera que, dentro do ambiente
escolar, muitas vezes esse contágio leva a um “circuito vicioso”, no
qual uma determinada emoção se expressa em uma criança, logo também em
outra criança e, muitas vezes também, por fim, no próprio professor. Por
exemplo: uma criança pequena chorando logo contamina os colegas com seu
choro, assim como uma criança maior pode contaminar os amigos e o
professor com sua raiva ou com sua apatia. Cabe ao professor não apenas
não se deixar contaminar, como também romper este “circuito” impedindo
que o contágio se alastre. Isso só é possível à medida que o professor
opera com a razão sobre a emoção e ajuda seus alunos a também operarem
racionalmente. Atividades que permitam a manifestação das emoções são
aliadas importantes, dentre elas pode-se ressaltar a expressão em
desenhos, textos, música, poesia, teatro e discussões que permitam “o
movimento para liberar a tensão, intercalar momentos de maior e de menor
concentração”.
Cabe ao professor, portanto, conhecer seu aluno, respeitá-lo
integralmente e ajudá-lo na empreitada de, pouco a pouco, ser capaz de
superar obstáculos e as situações de imperícia agindo racionalmente.
Dessa maneira, na atuação do professor “assumem relevância a
sensibilidade, a curiosidade, a atenção, o questionamento e a habilidade
de observação”, descreve a autora Abigail Alvarenga Mahoney.
Muito mais do que repassar conhecimentos, é necessário compreender-se
como humano e, assim, enxergar os alunos para além das funções
cognitivas. Esta é a difícil tarefa!
Artigo escrito por: Jordana Balduino, Soraya Vieira Santos
*Soraya
Vieira Santos é pedagoga, mestre e doutora em Educação. Jordana de
Castro Balduino Paranahyba é psicóloga, mestre e doutora em Educação.
Ambas são professoras de Psicologia da Educação na Faculdade de Educação
da Universidade Federal de Goiás (FE/UFg) e coordenam a pesquisa “A emoção na escola: um estudo sobre como a temática da afetividade tem comparecido nas escolas de Educação Básica”.
Emoções não podem ser ignoradas e são importantes para a evolução da inteligência, mas sala de aula não é consultório.
Falar de emoção na sala de aula é sempre intrigante, pois existem
diferentes perspectivas para abordar o tema. Alguns professores acham
que esse assunto não é para ser tratado na escola: lá seria um lugar de
conhecimento, em que a afetividade estaria em segundo plano e somente o
aspecto cognitivo seria relevante. Por outro lado, existem profissionais
que dão tanta ênfase ao aspecto afetivo, como se todos os problemas
emocionais pudessem ser tratados na sala de aula. Este é um tema
controverso, mas, seguramente, pode-se afirmar que nenhum desses
extremos é capaz de apreender a questão em sua totalidade. Aliás, como
em quase tudo na área da Educação, respostas dicotômicas são apenas
parciais. Não se trata de discutir se a emoção deve ou não estar na
escola, porque ela já está, mas também não se pode concluir que a escola
consiga solucionar todos os problemas no âmbito afetivo, porque ela não
pode.
Segundo a psicologia de Henri Wallon, o homem é um ser completo, isto é,
expressa domínios da cognição, da afetividade e do movimento, sendo que
esses domínios se influenciam, e em cada momento do desenvolvimento da
criança, há a predominância de um desses aspectos.
Por isso, não é possível que dentro da escola as emoções sejam ignoradas. Ao entrar na sala de aula, o professor não pode pedir: “Caro aluno, vou fechar a porta, por favor, deixe do lado de fora suas emoções, sentimentos, paixões...”. Nem mesmo o professor pode despir-se de suas manifestações afetivas quando está lecionando. No entanto, é evidente que o educador tem (ou deveria ter) condições de racionalizar muito mais suas próprias emoções do que o aluno. E, mais do que isso, de compreender as manifestações afetivas deles, ajudando-os no seu desenvolvimento.
Por isso, não é possível que dentro da escola as emoções sejam ignoradas. Ao entrar na sala de aula, o professor não pode pedir: “Caro aluno, vou fechar a porta, por favor, deixe do lado de fora suas emoções, sentimentos, paixões...”. Nem mesmo o professor pode despir-se de suas manifestações afetivas quando está lecionando. No entanto, é evidente que o educador tem (ou deveria ter) condições de racionalizar muito mais suas próprias emoções do que o aluno. E, mais do que isso, de compreender as manifestações afetivas deles, ajudando-os no seu desenvolvimento.
Para Henri Wallon, esse entendimento de que as emoções nos constituem,
que não podem ser ignoradas e de que, na verdade, são importantes para a
própria evolução da inteligência, revela a necessidade de que o
professor seja bem preparado para o ato de ensinar.
Assim, se as emoções estão na sala de aula, ao mesmo tempo em que não
são o foco central do ato educativo, o que cabe ao professor?
Essencialmente, conhecer e respeitar o aluno. Conhecer significa, antes
de tudo, entender o desenvolvimento da criança, compreender que cada
etapa tem uma função e que a própria criança deve ser sua referência,
evitando-se assim as comparações e favorecendo o atendimento às
necessidades de cada aluno.
De acordo com Laurinda Ramalho de Almeida, “é responsabilidade do
adulto, e principalmente do educador, adequar o meio escolar às
possibilidades e necessidades infantis do momento”. Ao conhecer o aluno o
professor torna sua ação psicológica, uma vez que, para Henri Wallon,
“a orientação do ensino torna-se psicológica a partir do momento em que
ele pretende adaptar-se ao espírito e à natureza da criança”.
Mas, além de conhecer a criança, a perspectiva de Wallon nos leva também
ao entendimento de que é preciso que o professor aprenda a respeitar o
aluno. Laurinda Ramalho de Almeira explora esta questão e sintetiza essa
ideia afirmando que o fundamento do trabalho do professor é o respeito
pelo aluno. Segundo a autora, respeitar o aluno significa:
- aceitá-lo no ponto em que está, conhecê-lo em sua etapa de formação e conhecer os meios em que ele possa desenvolver suas ações;
- não impor limites a seu desenvolvimento;
- oferecer outros meios e grupos para que ele possa desenvolver suas ações;
- aceitar que a Educação é uma relação evolutiva, que vai se transformando e tende para a autonomia, para o ponto em que o aluno não precisa mais do professor.
Isso só será possível se o professor assumir sua função de observador
atento da criança. Assim, a autora afirma que “o professor precisa ser
um arguto, lúcido, constante observador de seu aluno. Observador da
criança como uma pessoa completa, integrada, contextualizada; observador
da criança em cada um de seus domínios funcionais”. Mas, ao observar e
demonstrar interesse pelo aluno, o professor pode vir a se deparar com
questões afetivas que extrapolam suas possibilidades de intervenção.
Nesse momento, é preciso reconhecer os limites de sua atuação e contar
com um serviço multidisciplinar que possa apoiar a criança nas suas
necessidades. A parceria com a família é fundamental e podem ser
necessários encaminhamentos específicos, para os quais a escola precisa
estar preparada.
Nas situações, entretanto, do dia a dia da sala de aula, em que caberá
ao professor lidar com as mais diversas manifestações afetivas do
conjunto dos alunos e não apenas de uma criança, vale ressaltar a
importância de conhecer alguns aspectos das emoções como, por exemplo, o
fato de que são contagiosas. Wallon refere-se a isso em muitos de seus
trabalhos e Laurinda Ramalho de Almeida reitera que, dentro do ambiente
escolar, muitas vezes esse contágio leva a um “circuito vicioso”, no
qual uma determinada emoção se expressa em uma criança, logo também em
outra criança e, muitas vezes também, por fim, no próprio professor. Por
exemplo: uma criança pequena chorando logo contamina os colegas com seu
choro, assim como uma criança maior pode contaminar os amigos e o
professor com sua raiva ou com sua apatia. Cabe ao professor não apenas
não se deixar contaminar, como também romper este “circuito” impedindo
que o contágio se alastre. Isso só é possível à medida que o professor
opera com a razão sobre a emoção e ajuda seus alunos a também operarem
racionalmente. Atividades que permitam a manifestação das emoções são
aliadas importantes, dentre elas pode-se ressaltar a expressão em
desenhos, textos, música, poesia, teatro e discussões que permitam “o
movimento para liberar a tensão, intercalar momentos de maior e de menor
concentração”.
Cabe ao professor, portanto, conhecer seu aluno, respeitá-lo
integralmente e ajudá-lo na empreitada de, pouco a pouco, ser capaz de
superar obstáculos e as situações de imperícia agindo racionalmente.
Dessa maneira, na atuação do professor “assumem relevância a
sensibilidade, a curiosidade, a atenção, o questionamento e a habilidade
de observação”, descreve a autora Abigail Alvarenga Mahoney.
Muito mais do que repassar conhecimentos, é necessário compreender-se
como humano e, assim, enxergar os alunos para além das funções
cognitivas. Esta é a difícil tarefa!
Artigo escrito por: Jordana Balduino, Soraya Vieira Santos
*Soraya
Vieira Santos é pedagoga, mestre e doutora em Educação. Jordana de
Castro Balduino Paranahyba é psicóloga, mestre e doutora em Educação.
Ambas são professoras de Psicologia da Educação na Faculdade de Educação
da Universidade Federal de Goiás (FE/UFg) e coordenam a pesquisa “A emoção na escola: um estudo sobre como a temática da afetividade tem comparecido nas escolas de Educação Básica”.
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