A importância da brincadeira no aprendizado das crianças
O
psicólogo Peter Gray defende que oportunidades de auto-aprendizado,
socialização e brincadeira resultam em um aprendizado significativo para
as crianças.
Por Pedro Ribeiro Nogueira, do Portal Aprendiz.
As
crianças de hoje não têm tempo, espaço e permissão para brincar
livremente. Seus lugares são controlados, as horas escolares cresceram e
a organização das cidades desfez laços comunitários, tornando o espaço público
inacessível e perigoso. Tudo isso tem profundos impactos no aprendizado
e no desenvolvimento das pessoas. Essa é a opinião do psicólogo
evolucionista Peter Gray, autor do livro Free to Learn (Livres para
aprender, em tradução livre), que concedeu entrevista ao Portal Aprendiz.
Gray
defende, em palestra no TEDx, que quanto mais desenvolvido o cérebro de
um mamífero, maior a quantidade de tempo que seus filhotes passam
brincando. Pesquisas mostram que animais privados de contato social no
desenvolvimento tornam-se arredios e assustados e não têm resposta para
lidar com as ameaças.
Com
as nossas crianças, isso é ainda mais acentuado. Para exemplificar seu
ponto, Gray lembra de pesquisas de antropólogos com etnias que ainda
vivem de maneira próxima aos caçadores-coletores. Nelas, as crianças e
adolescentes têm garantido o direito de brincar da manhã até o
anoitecer. Fazem isso livremente e contando com o apoio de inúmeros
adultos, desenvolvendo habilidades e traços sociais importantes.
Apresentam comportamentos cooperativos e uma saúde vívida.
A publicação “The Case For Play” (A Defesa Do Brincar, em tradução livre), da ONG australiana Playground Ideas,
trouxe uma compilação de dados sobre a importância do brincar no
aprendizado. Segundo o estudo, os benefícios econômicos e sociais de uma
abordagem amigável ao brincar em um programa de pré-escola foram de
244,812 dólares retornados ao longo de 40 anos para um investimento
15,166 dólares por participante. Além disso, diversas pesquisas ilustram
que os efeitos de brincar desde cedo ajudam a desenvolver
alfabetização, leitura, familiaridade com números, criatividade.
A
cartilha continua citando estudos longitudinais – feitos ao longo de
até quarenta anos -, para ilustrar a importância do investimento em
políticas de primeira infância.
“O
“The Jamaica Study”, mostrou que crianças que tiveram estímulo ao
brincar desde cedo se desenvolvem melhor. O estudo acompanhou crianças
que sofriam de desnutrição e viviam em comunidades vulneráveis. Elas
passaram a receber, por dois anos, duas visitas lúdicas semanais. Vinte
anos depois, os jovens que receberam esse cuidado tiveram salários 42%
maiores, desenvolvimento cognitivo superior, habilidades psicossociais
desenvolvidas e menor ansiedade e depressão. Outra pesquisa, feita em
escolas primárias, mostrou que, quando uma metodologia lúdica é aplicada
desde cedo, os adultos apresentam maior escolaridade – foi registrado
um aumento de 44% no ensino médio e 17% no nível universitário.”
Para desenvolver alguns destes temas, o Portal Aprendiz entrevistou, via Skype, o professor de psicologia evolutiva Peter Gray, do Boston College, que também mantém um blog no Psychology Today, chamado Freedom to Learn, no qual ele compila diversos dados e artigos de opinião sobre educação, o direito ao brincar e direitos humanos.
Portal Aprendiz: De que maneira as crianças estão naturalmente equipadas para aprender?
Peter Gray:
Eu venho da psicologia evolutiva e é por isso que creio que, ao longo
de milênios de evolução, nossas crianças foram selecionadas por
processos que garantiram sua sobrevivência. E nós não teríamos
sobrevivido sem a habilidade de aprender de forma natural. Veja bem, nem
sempre os pais acreditaram que era sua função educar integralmente uma
criança. Então elas aprendiam brincando umas com as outras, simulando e
jogando com suas realidades. Nós temos um instinto natural para o
autodidatismo. O que eu tento descrever no meu livro é que até hoje, nas
sociedades modernas, esses instintos de aprendizado ainda estão em
funcionamento. Se nós promovemos oportunidades de auto-aprendizado,
socialização e brincadeira, elas vão ter um aprendizado significativo.
Portal Aprendiz: Como a educação tradicional lida com isso?
Gray: O
que nós entendemos hoje como educação tradicional surgiu quando o
objetivo da educação não era o pensamento livre, o aprendizado, a
formação crítica e criativa: o objetivo era treinamento de obediência,
para que as pessoas obedecessem seus mestres e senhores sem questionar.
Além disso, havia as escolas religiosas, que tinham como missão ensinar a
doutrina bíblica, ou seja, não era educação, era doutrinamento.
Acontece que ainda estamos presos a essas escolas. E elas operam
suprimindo o desejo natural de aprendizagem, reprimindo a curiosidade,
dizendo que não importam as questões que o indivíduo tem, apenas
importam as questões trazidas pelo currículo, uma educação que não
enxerga o brincar, o jogar e a socialização como parte do aprendizado e
que diz que as crianças não devem agir de maneira independente. Nós
tornamos aprender uma tarefa muito difícil em nossas escolas.
Se
nós promovemos oportunidades de auto-aprendizado, socialização e
brincadeira, [as crianças] vão ter um aprendizado significativo.
Portal
Aprendiz: Você afirmou, em uma entrevista, que nunca foi tão difícil
para as crianças do mundo acharem tempo para brincar. E que estamos
muito preocupados em torná-las adultas, cheias de atividades e não
existem espaços de livre convivência e jogo. Por que isso é importante?
Gray:
Ao longo da história, o brincar é maneira pela qual as crianças
adquirem estrutura física, emocional, intelectual e social. Ao brincar,
nós simulamos um mundo no qual é possível praticar as habilidades que
serão necessárias ao nos tornarmos adultos de fato. Hoje, as crianças
têm muito acesso aos computadores e telas, então eles vão ali buscar o
brincar, eles sabem “desde os ossos” que aquilo é importante e vão ali
tentar brincar e entender o mundo que elas terão que enfrentar. Mas é na
brincadeira de risco, livre e ao ar livre que se consegue lidar com
problemas complexos, por exemplo, é subindo numa árvore ou até brigando
uns com os outros, que eles aprendem a lidar com raiva e medo sem se
autodestruírem. As crianças precisam de todo o tipo de brincadeira, até
das mais arriscadas.
Portal
Aprendiz: Em um artigo, você enfatiza que as crianças precisam da sua
comunidade para se desenvolverem integralmente. Você afirma isso baseado
numa pesquisa sobre o povo Efe, que ainda mantém um estilo de vida
próximo ao dos caçadores-coletores, e dividem o cuidado com as crianças.
Isso lembra, na prática, um velho ditado que diz que para educar uma
criança você precisa de toda uma vila. Como nós podemos traduzir esses
ensinamentos em direção a um cuidado mais comunitário de nossas
crianças?
Gray:
Eu acho que, com o tempo, nós começamos cada vez mais a viver em
famílias nucleares isoladas. As crianças vão encontrar outras pessoas
não em comunidade, mas só na escola. Elas estão virtualmente isoladas de
outros adultos e elas precisam deles. Elas precisam sentir que existem
diversos adultos que se importam com elas. Elas não são desenhadas para
aprender apenas com seus pais porque, honestamente, muitas vezes, eles
não são as melhores pessoas (risos). Elas precisam de diferentes modelos
de vida para poder escolher qual melhor serve às suas necessidades
individuais, ao que elas querem ser.
Eu
acho que as escolas que seguem a metodologia Sudbury conseguem
proporcionar esse tipo de vida comunitária, as crianças sentem que
pertencem a este lugar, fazem as regras de comportamento junto com
adultos, podem se dirigir a qualquer adulto e procurar, por conta
própria, o que lhes interessa aprender. Acho que isso é uma tradução de
formar uma comunidade caçadora-coletora na sociedade moderna. Não é
exatamente isso, é claro, mas é uma comunidade onde as pessoas se sentem
cuidadas e queridas. E isso é muito valioso. Nós precisamos desenhar
mais formas para que as crianças, em nossas culturas, possam
experimentar comunidades de verdade.
Nós precisamos desenhar mais formas para que as crianças, em nossas culturas, possam experimentar comunidades de verdade.
Portal Aprendiz: Neste sentido, você considera que abrir as cidades para nossas crianças, e transformá-las em cidade educadora, em um ambiente de aprendizagem, poderia contribuir para o desenvolvimento das crianças?
Gray:
Sim, é claro. Existem inúmeras oportunidades de aprendizado no ambiente
urbano, talvez mais acessíveis aos adolescentes que às crianças, que
precisam ser cuidadosamente introduzidas a estes lugares, fazendo uso de
museus, zoológicos, playgrounds. Meu filho, quando estava em uma
escola Sudbury, passava dias letivos inteiros sozinho no centro de
Boston. Ele pegava o ônibus saindo do subúrbio e explorava coisas que o
interessavam no centro, indo em museus, livrarias etc. Acho que você
sempre está aprendendo como aprender e quando você é livre para buscar
seus interesses, para pesquisar o que te motiva, aí sim que seu
desenvolvimento pode decolar. A educação precisa ser autônoma, não
podemos mais decidir por um grupo inteiro de crianças, exigir que todas
elas se interessem pela mesma coisa ao mesmo tempo.
Portal
Aprendiz: Uma vez, durante uma entrevista, perguntei à fundadora da
Riverside School, na Índia, que se assemelha muito ao que você descreve,
sobre educação alternativa. Ela me respondeu que a educação tradicional
é que era alternativa – alternativa ao aprendizado. Por mais que essa
educação que você descreve seja repelida como “utópica”, você acha que é
possível imaginar a educação evoluindo para isso?
Gray: É difícil imaginar uma escola
pública indo até esse grau de liberdade, porque elas têm que responder a
uma série de normas, regulações e regras, ou seja, quando há dinheiro
público, o governo define o que é a educação. Ainda assim, eu visitei
uma escola no estado do Colorado que consegue fazer muito, mesmo
recebendo financiamento público. Acredito que existam muitas outras
escolas pelo mundo que incentivem a criatividade e a curiosidade, o
pensamento crítico e a liberdade. E, se você parar para observar o mundo
de hoje, é exatamente isso que ele está pedindo: criatividade,
curiosidade e a alegria de aprender nunca foram tão importantes. Então,
por mais que muitas vezes as políticas públicas demorem a alcançar o que
é preciso, eu creio que haverá mudanças e as escolas serão centros de
aprendizagem.
A importância da brincadeira no aprendizado das crianças
O
psicólogo Peter Gray defende que oportunidades de auto-aprendizado,
socialização e brincadeira resultam em um aprendizado significativo para
as crianças.
Por Pedro Ribeiro Nogueira, do Portal Aprendiz.
As
crianças de hoje não têm tempo, espaço e permissão para brincar
livremente. Seus lugares são controlados, as horas escolares cresceram e
a organização das cidades desfez laços comunitários, tornando o espaço público
inacessível e perigoso. Tudo isso tem profundos impactos no aprendizado
e no desenvolvimento das pessoas. Essa é a opinião do psicólogo
evolucionista Peter Gray, autor do livro Free to Learn (Livres para
aprender, em tradução livre), que concedeu entrevista ao Portal Aprendiz.
Gray
defende, em palestra no TEDx, que quanto mais desenvolvido o cérebro de
um mamífero, maior a quantidade de tempo que seus filhotes passam
brincando. Pesquisas mostram que animais privados de contato social no
desenvolvimento tornam-se arredios e assustados e não têm resposta para
lidar com as ameaças.
Com
as nossas crianças, isso é ainda mais acentuado. Para exemplificar seu
ponto, Gray lembra de pesquisas de antropólogos com etnias que ainda
vivem de maneira próxima aos caçadores-coletores. Nelas, as crianças e
adolescentes têm garantido o direito de brincar da manhã até o
anoitecer. Fazem isso livremente e contando com o apoio de inúmeros
adultos, desenvolvendo habilidades e traços sociais importantes.
Apresentam comportamentos cooperativos e uma saúde vívida.
A publicação “The Case For Play” (A Defesa Do Brincar, em tradução livre), da ONG australiana Playground Ideas,
trouxe uma compilação de dados sobre a importância do brincar no
aprendizado. Segundo o estudo, os benefícios econômicos e sociais de uma
abordagem amigável ao brincar em um programa de pré-escola foram de
244,812 dólares retornados ao longo de 40 anos para um investimento
15,166 dólares por participante. Além disso, diversas pesquisas ilustram
que os efeitos de brincar desde cedo ajudam a desenvolver
alfabetização, leitura, familiaridade com números, criatividade.
A
cartilha continua citando estudos longitudinais – feitos ao longo de
até quarenta anos -, para ilustrar a importância do investimento em
políticas de primeira infância.
“O
“The Jamaica Study”, mostrou que crianças que tiveram estímulo ao
brincar desde cedo se desenvolvem melhor. O estudo acompanhou crianças
que sofriam de desnutrição e viviam em comunidades vulneráveis. Elas
passaram a receber, por dois anos, duas visitas lúdicas semanais. Vinte
anos depois, os jovens que receberam esse cuidado tiveram salários 42%
maiores, desenvolvimento cognitivo superior, habilidades psicossociais
desenvolvidas e menor ansiedade e depressão. Outra pesquisa, feita em
escolas primárias, mostrou que, quando uma metodologia lúdica é aplicada
desde cedo, os adultos apresentam maior escolaridade – foi registrado
um aumento de 44% no ensino médio e 17% no nível universitário.”
Para desenvolver alguns destes temas, o Portal Aprendiz entrevistou, via Skype, o professor de psicologia evolutiva Peter Gray, do Boston College, que também mantém um blog no Psychology Today, chamado Freedom to Learn, no qual ele compila diversos dados e artigos de opinião sobre educação, o direito ao brincar e direitos humanos.
Portal Aprendiz: De que maneira as crianças estão naturalmente equipadas para aprender?
Peter Gray:
Eu venho da psicologia evolutiva e é por isso que creio que, ao longo
de milênios de evolução, nossas crianças foram selecionadas por
processos que garantiram sua sobrevivência. E nós não teríamos
sobrevivido sem a habilidade de aprender de forma natural. Veja bem, nem
sempre os pais acreditaram que era sua função educar integralmente uma
criança. Então elas aprendiam brincando umas com as outras, simulando e
jogando com suas realidades. Nós temos um instinto natural para o
autodidatismo. O que eu tento descrever no meu livro é que até hoje, nas
sociedades modernas, esses instintos de aprendizado ainda estão em
funcionamento. Se nós promovemos oportunidades de auto-aprendizado,
socialização e brincadeira, elas vão ter um aprendizado significativo.
Portal Aprendiz: Como a educação tradicional lida com isso?
Gray: O
que nós entendemos hoje como educação tradicional surgiu quando o
objetivo da educação não era o pensamento livre, o aprendizado, a
formação crítica e criativa: o objetivo era treinamento de obediência,
para que as pessoas obedecessem seus mestres e senhores sem questionar.
Além disso, havia as escolas religiosas, que tinham como missão ensinar a
doutrina bíblica, ou seja, não era educação, era doutrinamento.
Acontece que ainda estamos presos a essas escolas. E elas operam
suprimindo o desejo natural de aprendizagem, reprimindo a curiosidade,
dizendo que não importam as questões que o indivíduo tem, apenas
importam as questões trazidas pelo currículo, uma educação que não
enxerga o brincar, o jogar e a socialização como parte do aprendizado e
que diz que as crianças não devem agir de maneira independente. Nós
tornamos aprender uma tarefa muito difícil em nossas escolas.
Se
nós promovemos oportunidades de auto-aprendizado, socialização e
brincadeira, [as crianças] vão ter um aprendizado significativo.
Portal
Aprendiz: Você afirmou, em uma entrevista, que nunca foi tão difícil
para as crianças do mundo acharem tempo para brincar. E que estamos
muito preocupados em torná-las adultas, cheias de atividades e não
existem espaços de livre convivência e jogo. Por que isso é importante?
Gray:
Ao longo da história, o brincar é maneira pela qual as crianças
adquirem estrutura física, emocional, intelectual e social. Ao brincar,
nós simulamos um mundo no qual é possível praticar as habilidades que
serão necessárias ao nos tornarmos adultos de fato. Hoje, as crianças
têm muito acesso aos computadores e telas, então eles vão ali buscar o
brincar, eles sabem “desde os ossos” que aquilo é importante e vão ali
tentar brincar e entender o mundo que elas terão que enfrentar. Mas é na
brincadeira de risco, livre e ao ar livre que se consegue lidar com
problemas complexos, por exemplo, é subindo numa árvore ou até brigando
uns com os outros, que eles aprendem a lidar com raiva e medo sem se
autodestruírem. As crianças precisam de todo o tipo de brincadeira, até
das mais arriscadas.
Portal
Aprendiz: Em um artigo, você enfatiza que as crianças precisam da sua
comunidade para se desenvolverem integralmente. Você afirma isso baseado
numa pesquisa sobre o povo Efe, que ainda mantém um estilo de vida
próximo ao dos caçadores-coletores, e dividem o cuidado com as crianças.
Isso lembra, na prática, um velho ditado que diz que para educar uma
criança você precisa de toda uma vila. Como nós podemos traduzir esses
ensinamentos em direção a um cuidado mais comunitário de nossas
crianças?
Gray:
Eu acho que, com o tempo, nós começamos cada vez mais a viver em
famílias nucleares isoladas. As crianças vão encontrar outras pessoas
não em comunidade, mas só na escola. Elas estão virtualmente isoladas de
outros adultos e elas precisam deles. Elas precisam sentir que existem
diversos adultos que se importam com elas. Elas não são desenhadas para
aprender apenas com seus pais porque, honestamente, muitas vezes, eles
não são as melhores pessoas (risos). Elas precisam de diferentes modelos
de vida para poder escolher qual melhor serve às suas necessidades
individuais, ao que elas querem ser.
Eu
acho que as escolas que seguem a metodologia Sudbury conseguem
proporcionar esse tipo de vida comunitária, as crianças sentem que
pertencem a este lugar, fazem as regras de comportamento junto com
adultos, podem se dirigir a qualquer adulto e procurar, por conta
própria, o que lhes interessa aprender. Acho que isso é uma tradução de
formar uma comunidade caçadora-coletora na sociedade moderna. Não é
exatamente isso, é claro, mas é uma comunidade onde as pessoas se sentem
cuidadas e queridas. E isso é muito valioso. Nós precisamos desenhar
mais formas para que as crianças, em nossas culturas, possam
experimentar comunidades de verdade.
Nós precisamos desenhar mais formas para que as crianças, em nossas culturas, possam experimentar comunidades de verdade.
Portal Aprendiz: Neste sentido, você considera que abrir as cidades para nossas crianças, e transformá-las em cidade educadora, em um ambiente de aprendizagem, poderia contribuir para o desenvolvimento das crianças?
Gray:
Sim, é claro. Existem inúmeras oportunidades de aprendizado no ambiente
urbano, talvez mais acessíveis aos adolescentes que às crianças, que
precisam ser cuidadosamente introduzidas a estes lugares, fazendo uso de
museus, zoológicos, playgrounds. Meu filho, quando estava em uma
escola Sudbury, passava dias letivos inteiros sozinho no centro de
Boston. Ele pegava o ônibus saindo do subúrbio e explorava coisas que o
interessavam no centro, indo em museus, livrarias etc. Acho que você
sempre está aprendendo como aprender e quando você é livre para buscar
seus interesses, para pesquisar o que te motiva, aí sim que seu
desenvolvimento pode decolar. A educação precisa ser autônoma, não
podemos mais decidir por um grupo inteiro de crianças, exigir que todas
elas se interessem pela mesma coisa ao mesmo tempo.
Portal
Aprendiz: Uma vez, durante uma entrevista, perguntei à fundadora da
Riverside School, na Índia, que se assemelha muito ao que você descreve,
sobre educação alternativa. Ela me respondeu que a educação tradicional
é que era alternativa – alternativa ao aprendizado. Por mais que essa
educação que você descreve seja repelida como “utópica”, você acha que é
possível imaginar a educação evoluindo para isso?
Gray: É difícil imaginar uma escola
pública indo até esse grau de liberdade, porque elas têm que responder a
uma série de normas, regulações e regras, ou seja, quando há dinheiro
público, o governo define o que é a educação. Ainda assim, eu visitei
uma escola no estado do Colorado que consegue fazer muito, mesmo
recebendo financiamento público. Acredito que existam muitas outras
escolas pelo mundo que incentivem a criatividade e a curiosidade, o
pensamento crítico e a liberdade. E, se você parar para observar o mundo
de hoje, é exatamente isso que ele está pedindo: criatividade,
curiosidade e a alegria de aprender nunca foram tão importantes. Então,
por mais que muitas vezes as políticas públicas demorem a alcançar o que
é preciso, eu creio que haverá mudanças e as escolas serão centros de
aprendizagem.
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